A família real britânica sempre esteve sob os olhares da mídia e, através dela, do mundo. Isso ficou mais intenso com a chegada de Diana à família real, mas principalmente depois de sua morte.

Muitas coisas ruins estão relacionadas com a história dos membros reais, e a mídia fez questão de analisar cada momento. Príncipe Harry, o segundo filho da princesa Diana e do rei Charles, é um dos membros que mais sofre com a família e a mídia. Críticas e ataques ficaram piores quando ele assumiu o namoro e depois se casou com a americana Meghan Markle, na época atriz. Quem acompanha as fofocas sobre a família real sabe que não foi fácil tudo que eles passaram e hoje eles abriram mão de vários direitos e moram em outro país. 

Sem medo de novos ataques a sua pessoa ou a sua própria família, Harry resolveu contar tudo o que passou em sua biografia. Harry narra sua vida em três partes, ele começa relembrando o momento mais doloroso de sua vida, a morte da mãe, assim relembrando sua infância ao lado dela também; depois relata como foi parte de sua vida adulta quando fazia parte do exército e foi para o Afeganistão; até finalmente entrarmos na parte mais atual: seu relacionamento com Meghan. Todos esses momentos são envolvidos por mentiras, traumas e muitas fofocas.

Eu sou uma das pessoas que acompanha as notícias sobre a família real britânica. Além disso, gosto muito da série The Crown, lançada pela Netflix. E foi por tudo que já vi e fiquei sabendo sobre a realeza que tive muita curiosidade de ver como Harry iria expor sua família. Uma coisa fica bem clara em todo livro, Harry é uma pessoa muito marcada pela morte da mãe.

“E se eles (Charles e William) não sabiam por que eu saí (dos deveres reais), talvez eles simplesmente não me conhecessem. De forma alguma. E talvez eles nunca tenham realmente me conhecido. E para ser justo, talvez eu também não. O pensamento me fez sentir frio e terrivelmente sozinho. Mas também me animou. Pensei: preciso contar a eles.”

Na primeira parte, Harry resolveu começar pesado, ele relembra a morte da mãe e conta que seu pai sempre deixou claro que ele era um filho “reserva”. Caso algo acontecesse ao irmão mais velho, ele seria o substituto. Essa informação vai aparecer em muitos momentos do livro. Com isso, percebemos mais esse “trauma” na vida dele. Outro ponto importante é seu irmão William.

Vamos conseguir compreender melhor a relação dos dois, mas mesmo com uma progressão na narrativa, eu tive dificuldade de compreender quando foi que a relação deles azedou. Acredito que só o fato da criação deles ser permeada por objetivos e obrigações, sem falar um ar de competição, ajudou em tudo de negativo que aconteceu com eles. Isso tudo é bem triste, mas conforme ele conta, mais eu detestava William

A segunda parte com ele servindo no exército é tão pesada quanto a primeira. A guerra não é bonita e nem interessante, e me choca ver um membro da realeza nessa situação. Ele não tem vergonha de contar sobre as drogas, que usou boa parte da vida, e das mortes que cometeu em nome de seu país. Essa parte, sua relação com a avó ainda era positiva. Contudo, ele, assim como muitos, teve sequelas psicológicas por tudo que viveu no Afeganistão. Aqui também veremos a mídia retratando sua vida de forma negativa.

Na terceira parte, vamos ver o nascimento da relação de Harry e Meghan. Com isso, toda uma nova onda de ataques ao príncipe e ao casal. Eu só conseguia pensar em como Meghan foi forte em aguentar tudo que passou. Uma coisa importante aqui é que a relação de Harry com a família já não era das melhores, a chegada de Meghan faz tudo ficar pior.

Eu gosto muito de como ele não se entrega e segue firme ao lado dela, mesmo que eu ache ele meio vitimizado em alguns momentos. Vamos acompanhar também acontecimentos importantes que fizeram o casal tomar a decisão de distanciar do Palácio de Buckingham

Eu fico realmente muito impressionada com o papel da mídia em toda essa história. Eles são responsáveis por uma parte significativa das opiniões que as pessoas vão ter por um membro real. Eles podem escolher prejudicar ou ajudar a pessoa, e, na narrativa contada pelo príncipe, parece que eles sempre escolhem prejudicá-lo. Mas não passa despercebido que Harry se faz de vítima em vários momentos, sem falar que ele nunca apresenta culpa por nada que acontece. Mesmo quando ele relata coisas erradas que fez, eu não senti em sua narração sentimento de culpa. Entendo que isso também pode ser fruto dos sofrimentos que teve. Se você sofre perseguição o tempo todo, acredito que deve ser difícil diferenciar o certo do errado.

Espero do fundo do coração que escrever essas memórias tenha trazido algum sentimento de alívio e paz para Harry, pois ficou mais que claro o quão atormentado ele é com tudo que viveu. Eu já sabia do caos que era a família real, mas essa leitura veio para confirmar. Com tudo isso, fica claro os motivos que fizeram Harry fugir de tudo e priorizar a família que ele mesmo está construindo. Acredito que a visão do leitor vai mudar bastante dependendo da relação dele com a história da família real. A relação com a família, a morte da mãe, o uso de drogas, as bebedeiras, os amigos, a guerra e, finalmente, o amor, Príncipe Harry não esconde nada.

Avaliação: 3 de 5.

  • Spare
  • Autor: Príncipe Harry
  • Tradução: Renato Marques
  • Ano: 2023
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 512
  • Amazon

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