O modo como a gente se interessa por um livro pode variar, normalmente a pessoa lê ou se informa sobre o tema ou a trama do livro antes de tomar alguma decisão sobre a leitura. Contudo, eu gosto de saber pouco sobre o livro. Normalmente vejo alguém “falando” sobre ele, e isso desperta o meu interesse. Outra coisa que acontece é alguém que conhece meu gosto literário me recomendar alguma leitura. Foi assim com Indomável, eu não sabia nada sobre o livro. Só decidi ler, pois uma amiga disse: “Lê, tu vai gostar desse livro, achei tua cara”. É claro, eu acreditei e felizmente acabei adorando muito o que encontrei nas páginas de Indomável.

Para minha surpresa inicial, o livro não é uma ficção, mas sim de memórias. Glennon Doyle Melton vai, através de suas experiências de vida e lembranças, discutir o fato de nós, mulheres, sermos domesticadas ainda crianças e vivermos da maneira que fomos induzidas a viver. Ela começa o livro de forma magistral, trazendo uma experiência em um zoológico, no qual ela presenciou um espetáculo envolvendo a corrida de uma Guepardo. E com isso, ela vai fazendo a relação da fera enjaulada com a mulher “enjaulada”. Isso, logo no começo, já é um aviso da leitura incrível que vamos encontrar.  

Glennon Doyle Melton foi uma mulher que a vida toda seguiu com os padrões de como deveria ser uma “boa” menina. Depois de adulta casou, teve filhos, foi traída, tentou salvar o casamento e passou por um longo divórcio. Mas foi só depois de muito tempo, já escritora e uma mulher com muitas questões internas que ela descobriu a felicidade através de um novo amor e quando deixou  a sua verdadeira essência como mulher livre.

Era uma pessoa grande demais para a vida que eu estava vivendo até então. Para se estabelecer, esse eu precisou destruir sistematicamente o eu estabelecido. Então construí uma vida só minha.

Eu fiquei muito apaixonada por esse livro. Eu gostei muito de Glennon ir mesclando suas lembranças, com as opiniões dela agora, sempre lembrando que muitas de suas atitudes eram com base no que aprendeu que era o “certo” perante a sociedade, que julga constantemente e está sempre falando como uma mulher deve se comportar. Impossível não se conectar com pelo menos uma coisa que ela fala. Ela explora com muita propriedade a ideia de que a mulher é domesticada desde pequenas e que sempre faz as coisas porque alguém a ensinou, mesmo que aquilo não seja totalmente sua vontade, o que a vai consumindo pouco a pouco. 

Uma mulher se torna uma mãe responsável quando para de ser uma filha obediente. Quando finalmente entende que está criando algo diferente do que seus pais criaram. Quando começa a construir sua ilha, não segundo as especificações dele, mas segundo as suas.

Ela vai falar de maternidade, sexo, amor, traição, infância e família de forma clara e sem medo. Eu me identifiquei com muitas questões, sempre gosto principalmente de quando o tópico era a maternidade. Como mãe, eu sempre gosto de ver como outras mulheres encaram essa responsabilidade e esse amor imensurável. A maternidade e tudo que vem com ela é quase inexplicável, sem falar que é motivo de muita dúvida nas mulheres, por isso acredito que esse assunto sempre tenha que ser claro e que os sentimentos das mulheres não devem ser julgados.  

Em 2021, eu li também Mulheres Que Correm com Lobos, livro que fala sobre os estereótipos femininos e que propõe um resgate da mulher selvagem. Eu percebi que a Glennon, usa muito das ideias de Clarissa Pinkola Éstes em sua abordagem e isso me deixou muito feliz. O que ela faz foi mostrar de forma simples e conectada com a vida real alguns dos ensinamentos de Clarissa. Achei perfeito!

Indomável é um livro muito impactante. Perfeito para mulheres que estão constantemente se esforçando para serem boas nas diversas áreas da sua vida, muitas vezes, sem nem saber o motivo. Muitas mulheres estão cansadas e sobrecarregadas, sem saber como dizer chega e tentar viver de acordo com o que acreditam. É também sobre isso esse livro. Mulher, você aí, tenha confiança e seja o que quiser ser! 

  • Untamed
  • Autor: Glennon Doyle
  • Tradução: Giu Alonso
  • Ano: 2021
  • Editora: HarperCollins Brasil
  • Páginas: 320
  • Amazon

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